Cresceu o uso de drogas ilícitas por adolescentes entre 2009 e 2012,
sobretudo entre as meninas. É o que mostra pesquisa feita pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgada nesta
quarta-feira, 19. Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar
(PeNSE), em 2012, chegou a 9,9% a proporção de adolescentes que vivem
nas capitais que já experimentaram drogas ilícitas, o que equivale a
pouco mais de 312 mil jovens. Em 2009, quando foi feita a primeira
pesquisa desse tipo, o porcentual foi de 8,7%.
Para garantir que o levantamento refletisse ao máximo a realidade, a
pesquisa foi feita com entrega de equipamentos eletrônicos aos próprios
adolescentes, que responderam com privacidade sobre hábitos e
comportamento. Nas capitais, em 2009, 6,9% das meninas disseram ter
usado alguma droga, índice que subiu para 9,2% em 2012. O consumo entre
os meninos ficou praticamente estável, oscilando de 10,6% para 10,7%. Em
2012, a pesquisa foi feita no País inteiro e o resultado foi de 7,3% de
adolescentes com alguma experiência de uso de drogas. O levantamento
anterior havia sido feito apenas nas capitais.
Foram entrevistados 109.104 alunos do 9° ano do ensino fundamental de
escolas públicas e privadas em todo País, a grande maioria (86%) com
idades de 13 a 15 anos. Os resultados foram projetados para o universo
de 3,1 milhões de adolescentes que estudam no 9º ano. Embora a proporção
pareça pequena, os técnicos do IBGE se espantaram com a revelação de
que 0,5% dos adolescentes usou crack no período de 30 dias que
antecederam a pesquisa, pois, em números absolutos, são 15 mil
estudantes no País inteiro que já experimentaram a droga, que tem o
maior potencial de dependência.
Álcool
No caso das drogas lícitas, nada menos que sete em cada dez
adolescentes já experimentaram alguma bebida alcoólica, proporção que
teve pequena redução em relação a 2009, passando de 71,4% para 70,5%. No
entanto, 50,3% informaram já ter tomado pelo menos uma dose, o que
equivale a, no mínimo, uma lata de cerveja, uma taça de vinho ou uma
dose de cachaça ou uísque. Esta pergunta não foi feita em 2009.
Os números mais recentes mostram que aumentou a proporção de jovens
que já ficaram bêbados, de 22,1% para 24,3%. Chama a atenção o fato de
que, apesar da pouca idade e da proibição de venda para menos de 18
anos, 16,6% dos adolescentes disseram ter comprado bebidas em
estabelecimentos comerciais. O maior acesso dos jovens ao álcool é em
festas (36%) e com amigos (20,9%). Tiveram acesso à bebida na própria
casa 9,1% dos adolescentes.
Solidão e bullying
Embora a pesquisa não tenha investigado as razões que levaram os
adolescentes ao uso de bebidas alcoólicas e drogas e os efeitos
causados, 16,5% dos jovens entrevistados disseram terem se sentido
sozinhos nos 12 meses que antecederam a pesquisa. O sentimento de
solidão é muito maior entre as meninas (21,7%) do que entre os meninos
(10,7%). As meninas também são mais suscetíveis à insônia em decorrência
de preocupações: 12,85% delas disseram já ter perdido o sono, enquanto
entre os meninos são apenas 6,3%.
Um quinto (20,8%) dos adolescentes pratica bullying, também revela a
pesquisa do IBGE. De outro lado, 35,4% disseram ter sofrido agressão,
humilhação e hostilidade por parte dos colegas, sendo que 7,2% disseram
que a prática é frequente e 28,2% afirmaram que acontece raramente ou às
vezes. Pela primeira vez os adolescentes foram questionados se
participam de ataques aos colegas, por isso não há comparação com 2009.
Os dados mostram que a prática de bullying está crescendo nas
escolas. Nas capitais, 5,4% disseram sofrer ataques sempre ou quase
sempre em 2009, proporção que subiu para 7,2% em 2012. Os que sofrem
algum tipo de bullying eram 30,8% e passaram para 35,4%.
Maior do que a proporção de adolescentes que sofrem bullying sempre
ou quase sempre, no entanto, é a de jovens que são agredidos por adultos
da própria família. Pouco mais de 10% dos entrevistados disseram terem
sido agredidos nos 30 dias anteriores à pesquisa. As meninas são mais
vulneráveis (11,5% delas sofreram agressões) que os meninos (9,6%).
Os dados também revelam que é crescente a proporção de adolescentes
que se envolvem em brigas com armas brancas (passou de 6,1% para 7,3%) e
com armas de fogo (de 4% em 2009 para 6,4%).
Trabalho
Embora o trabalho de crianças e adolescentes até 13 anos não seja
permitido pela lei brasileira, 8,6% dos alunos do 9º ano no País
trabalham, mostram os dados do IBGE. A Região Sul tem a maior proporção,
com 11,9% de estudantes trabalhadores. O menor índice está no Sudeste,
com 7,5%.
Sexo
A PeNSE mostra ainda uma ligeira queda entre os adolescentes que já
tiveram relação sexual e um aumento do uso de preservativos. Em 2012,
28,7% dos adolescentes já tinham tido relação sexual, proporção um pouco
inferior aos 30,5% de 2009. Dos que têm experiência sexual, 79,5% dos
adolescentes usaram camisinha na última relação, índice maior que os
75,9% de 2009.