Um grupo de estudantes do ensino médio no município de Luzilândia, distante 240 km de Teresina, se reuniu e expressou através de uma carta aberta, as dificuldades enfrentadas com a greve dos professores na rede estadual. A folha saiu das mãos de dezenas de estudantes da Unidade Escolar Luis Teixeira, que elencaram e discutiram os pontos que os angustiam diante da falta de aulas.
Estudantes fazem carta-aberta para W. Dias sobre greve dos professores (Foto: Montagem OitoMeia) |
“Talvez nem saibam que a escola exista”, afirmou o grupo em carta assinada por mais de 30 adolescentes do 1° ao 3° ano do Ensino Médio. “Mas, nós o conhecemos como nosso governador”, continuou. A carta revela um desabafo dos estudantes mesmo a quilômetros de distância do gestor.
A ideia surgiu porque Leandro Costa e os colegas de classe estavam incomodados com o impasse na negociação dos professores. O pensamento de “o que valemos e valemos quanto?” virou reunião nas redes sociais e uniu estudantes após avisos de boca-a-boca.
“Eu vi que a gente tinha que fazer alguma coisa. A gente não está tendo aula, mas entende a situação dos professores. Nosso medo é ter um resultado ruim no Enem, principalmente quem é do terceiro ano e quer entrar na universidade. Nos reunimos em sala e todo mundo foi destacando os pontos que queria falar para o governador e isso virou a carta”, disse ao OitoMeia.
Estudantes escrevem carta-aberta e desabafam sobre educação no Piauí (Foto: Clica Luzilândia/Paula Andreas) |
“EDUCAÇÃO É TRANSFORMAÇÃO”
No documento, eles ainda destacam a importância de investir e valorizar a educação no Piauí e o medo de ter um mal desempenho ao buscar vagas no ensino superior. O objetivo era entregar o documento de duas páginas a Wellington Dias para que saiba o posicionamento dos estudantes sem aulas no interior do Piauí. Segundo o grupo, é importante apoiar e valorizar a educação no estado e os professores formam a base do saber.
“O professor é que está na sala de aula todos os dias nos educando como cidadãos para mudarmos a realidade do País. No entanto, estamos vendo nossos professores não serem respeitados em seus direitos. Porque o piso salarial que o Senhor não quer pagar é direito deles. Como então pensar na educação como transformação, se os nossos professores que estão na sala de aula diretamente transformando esse país não são valorizados?”, argumentaram.
Eles ressaltam que a greve no início do ano letivo de 2018 provocou atrasos no conteúdo e o sonho de ingressar no ensino superior pode ser afetado por isso. “Os alunos que estão se preparando para o vestibular e Enem são os mais afetados, pois sem aulas não teremos a preparação adequada para as provas. Além disso, se não terminarmos o ano letivo no tempo hábil, teremos dificuldades para ingressar em uma Universidade sem o diploma do ensino médio”, continuaram.
“SABER NÃO TEM PREÇO”
Para os estudantes, apesar de válida, a greve gera transtorno e desgaste. Por outro lado, os professores não devem ser tratados com descaso.
“Senhor governador, o professor é a base da educação, de todo conhecimento que nos é repassado e não deve de forma alguma ser tratado com descaso. Dessa forma não vemos outra solução justa se não o pagamento correto do reajuste salarial, e o cumprimento de todas as suas exigências. Um direito deles, um dever do senhor, e nós esperamos é que você Governador cumpra com seu dever, porque acreditamos que o saber não tem preço”, finalizaram os adolescentes entre 15 e 18 anos.
“EXERCÍCIO DA CONSCIÊNCIA POLÍTICA”
O OitoMeia entrou em contato com a Unidade Escolar Luis Teixeira. Segundo Fernando Alves, coordenador pedagógico, a ideia partiu inteiramente dos estudantes, mas a escola vê como um exercício para a consciência política dos alunos.
“A ideia foi deles e ficamos sabendo após ver que eles estavam se reunindo. Eles tem o direito de se organizar e de se entender no mundo. Acredito que essa discussão entre eles foi importante para eles mesmos. Acho uma atitude belíssima e isso mostra a consciência política e interesse deles em questões sociais”, disse.
A GREVE DOS PROFESSORES DURA 33 DIAS
A greve dos professores da rede pública estadual chega o 33° dia no Piauí e contabiliza 70% de adesão por parte dos profissionais em todo o estado. Sem chegar a um ponto comum com o Governo, a categoria ingressou ação na justiça cobrando a execução do que havia sido acordado no mês de março, e aguarda resposta judicial. O ato aconteceu em 2 de julho.
O Governo do Piauí aprovou em junho o reajuste de 2,95% (baseado na inflação) para todos os servidores estaduais. A decisão foi mal vista pela oposição do Executivo, e principalmente, pelos professores, que se manifestaram contra a medida.
O reajuste aprovado é consideravelmente menor que o acréscimo assinado em 12 de março com o Governo do Piauí. O Estado recuou em conceder os 6,81% integral para professores ativos, aposentados e pensionistas, enquanto uma primeira parcela de 3,15% para funcionários de escola e uma segunda de 3,91% para eles no mês de setembro. A greve foi retomada em 7 de junho após uma manhã inteira de Assembleia.
Ao OitoMeia, a Secretaria de Educação do Piauí (Seduc) informou que os Centros de Educação de Jovens e Adultos que ofertam o Ensino Fundamental menor, etapas I à III estão funcionando totalmente. Com relação aos Centros que ofertam o ensino fundamental maior e o ensino médio, 60% não aderiram à greve dos professores e seguem com as atividades normalmente.
Com relação às unidades paralisadas, a Seduc continua monitorando para que possa garantir o cumprimento dos 200 dias letivos. Ainda de acordo com o órgão, assim que paralisação for encerrada, será reprogramado o calendário escolar.
A reportagem também entrou em contato com a Assessoria de W. Dias, mas até a publicação desta matéria não obteve resposta. O espaço fica aberto para os devidos posicionamentos.
Fonte: OitoMeia